T I R O N A F O R M I G A

      

     QUANTAS form      A propriedade é um roubo, a religião um delírio e o trabalho uma falácia.


       Esse seria uma espécie de "princípio triádico" no qual nossa civilização se fundou, há mais ou menos seis ou oito mil anos. Não dessa maneira crua e radical, mas justamente adotando como princípios os seus antônimos, ou seja: "valores imanentes à espécie, eternos, morais e espirituais, que norteiam e valorizam o homem" esse animal que se imagina superior aos demais bichos.
      Bom, tenho novidades: essa Civilização  foi extinta em 1920, por aí. Seus escombros sofreram uma mutilação final em 1945, quando um fazendeiro do Missouri(*), EUA, casualmente exercendo a presidência daquele país, ordenou que as forças armadas detonassem duas bombas atômicas, respectivamente em Nagasaqui e Hiroshima, Japão.
      "1920? o quê aconteceu que torna o ano tão especial?"
      Nada. Apesar de a imprensa ainda chamar a época de "os anos loucos", "geração perdida" etc. etc, podemos dizer que seriam anos que se caracterizavam pelo desespero da parte mais sensível da população, justamente pela perda definitiva daqueles antigos valores: "moral", "princípios", "generosidade" "altruísmo" etc., abstrações tão caras e imaginariamente perpétuas na espécie humana.
      Para mim os primeiros anos da década do último século significaram o fim da matança terrivelmente selvagem da Guerra Mundial, o esboroamento de "impérios" e quejandos. Em 1914 havia o austro-húngaro, o alemão, o russo, o britânico, além de outros; nada disso sobreviveu aos mais de cinquenta milhões de mortos dessa carnificina que terminou(?) em 1945 com meio milhão de japoneses sacrificados (entre os que morreram na explosão das bombas atômicas e aqueles vitimados a partir desta - e até hoje - pela radioatividade).  
     Como se fosse o coroamento dessa auto-destruição humana, a Influenza apelidada de "Gripe Espanhola" matou entre 1918 e 1921 mais cinquenta ou cem milhões de seres, significando à época absurdos 5% da população. Sua letalidade foi extremamente inflacionada pelas péssimas condições sanitárias que existiam então, como também pela pouca experiência médica profilática, o desconhecimento dos vírus e de suas letalidades, a falta de coordenação entre os serviços sanitários, etc. 
      Resumindo, essa última centúria jogou por terra tudo o que havíamos acumulado em 8 mil anos. por outro lado, o tempo ainda não foi suficiente para que a humanidade se desse conta do imenso desastre que ela causou a si própria. Os mitos, as falácias intelectuais, morais, religiosas etc., continuam aparentemente sem maiores mudanças. Não imaginamos como estamos perto da nossa extinção enquanto espécie animal impulsionados pela ganância, egoísmo e crueldade tão pertinentes a nós. Os desastres ambientais, as guerras, a fome, a notável diminuição dos até então abundantes recursos minerais, com a água potável na liderança (e prestes a se tornar a maior fomentadora de guerras) nos trouxeram a este ponto - inimaginável a meros cento e poucos anos.
      Somos, no entanto, primatas antropóides extremamente resistentes.  Hominídeos sobreviventes sobre várias outras subespécies, nos multiplicamos em ambientes às vezes criticamente hostis. Além disso desenvolvemos habilidades mais e mais complexas que nos distanciaram exponencialmente do demais. Nossa compreensão do que nos cerca - que há menos de 90 anos se restringia à Via Láctea, atualmente se expande ao multiverso, à Física Quântica e à nanotecnologia. Isso é motivo de alento, embora possa perceber que a  maioria humana, presa da angústia e da afoiteza, da fundamental ansiedade que lhes causam seus instintos versus os "princípios sociais" que nos oprimem. mas que ao mesmo tempo nos transportaram até aqui. Isso está sendo escrito no dia  em que um artefato nosso chega aos confins do Sistema Solar, e que, quase simultaneamente, outro pousa suavemente no lado oculto do nosso satélite.


(*) - Harry Truman (1884-1972) assumiu a presidência dos Estados Unidos em abril de 1945, com a morte de Franklin D. Roosevelt. Ordenou o ataque nuclear ao Japão em agosto do mesmo ano, apesar de os alemães já terem se rendido na Europa, sob o argumento de que sem essa medida a guerra contra aquele país duraria no mínimo mais um ano, com milhares de vítimas. Note-se que naqueles tempos japoneses não eram "brancos": eram chamados por todos os demais de "amarelos", configurando o forte preconceito racial contra aquela etnia.
     
      
      

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