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Mostrando postagens de 2013

FINADOS

     In illo tempore, quer dizer, nos tempos de D. João Charuto (*) ou melhor: na minha infância, dia 2 de novembro ou "Finados", era um dia em que a religião esmerava-se em pompas e cerimônias fúnebres. Mostrava com isso suas origens. Sempre tive para mim que as religiões originaram-se no espanto, sofrimento, e no caráter indecifrável da morte. Daí o consolo de, sem exceção, todas falarem nas recompensas e na felicidade que advirão ao ser humano depois dessa "passagem" efêmera e de certa forma uma espécie de vestibular para a bem-aventurança eterna da "verdadeira vida".      A vida moderna mudou bastante esses costumes. Naquela época remota, até as rádios (sim! nem TV existia!) tinham parte importante no "clima geral", uma vez que só podiam tocar músicas clássicas, que em nossa ignorância pueril chamávamos de "música fúnebre". Multidões iam aos cemitérios, o comércio de flores e velas era inflacionadíssimo e nem por isso deixavam de v

OUTRA VEZ!!

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     Não pensei em tornar a ver o fenômeno, hoje foi na televisão - mas tudo bem: nevou em Curitiba! aliás o Sul do Brasil parece estar totalmente tomado por uma "nevasca" (subtropical, vá lá, mas neve é neve em qualquer lugar): aqui, é verdade, dura menos que nos países do Hemisfério Norte, muito mais próximos do Pólo Norte do que os do Sul, onde as terras e os Continentes ficam mais perto do Equador.           Mas achei muito bonito ver a terra branquinha novamente, tal como vi (e contei aqui, ver crônica do dia 15 de maio de 2010). aquela havia sido bem no dia do aniversário de 5 aninhos do meu filho mais velho, hoje um senhor (nos dois sentidos) músico barroco de mais de quarenta. Fazendo sucesso em Europa, França e Bahia, mas principalmente em São Paulo, onde reside. E tal qual outro grande músico brasileiro, o pianista Arthur Moreira Lima, torcedor emérito do ínsígne Fluminense, o maior time de futebol do Mundo! Existe com certeza uma forte relação entre o ri

PROIBIDO BUZINAR

                                                                                            Paulo da Matha-Machado Jr.                 U T I             Fui acordado por uma voz   de mulher. Era um som bem desagradável e atemorizador. Apesar do tom baixo, quase inaudível, dava para perceber a   ameaça contida no jeito de cuspir as palavras.   A enfermeira raspou-se. Ninguém nunca soube explicar esse medo, mas é atávico: qualquer um, desde a primitiva horda, sabe do que eu estou falando. Tanto sabemos que a lembrança acudiu-me com toda a nitidez, embora tão arcaica. Quase uma epifania. E causou-me extremo desconforto, que somado aos da minha atual condição, todo enredado de fios e preso   naquele leito de hospital, ficou ainda maior. Para disfarçar tentei assobiar, enquanto procurava a tal mulher. Mas não conseguia soprar direito, com aquele tubo naso não-sei-o-quê,   logo acima do lábio superior. De qualquer forma, o esforço deve ter alter

NOSSA PRINCIPAL MOTIVAÇÃO

Humanos, nada mais que o egoísmo nos move. Este sentimento decorre do fortíssimo instinto de sobrevivência, aguçado desde que, há milhões de anos, descobrimo-nos tão frágeis e despreparados para viver e procriar.      segundo recentes estudos firmados na genética e no mapeamento da espécie humana, houve um momento no qual ficamos a um tico da completa extinção.  Disso decorre que todos, eu disse, todos os modernos humanos descendem de uma única mulher. Esse momento ficou impresso no que denominam inconsciente coletivo, que eu não sei se existe mesmo. O que sei é que nosso extremo medo da transitoriedade da vida nos levou a religiões códigos morais e comportamentais, polícia, justiça e outras maluquices do tipo. No fundo homens e mulheres só querem  mesmo a auto preservação. Para que? ora, por que vocês acham que existem mais espelhos no mundo que seres humanos?      Isso dito, voltemos ao egoísmo: é o mais intenso dos sentimentos, o único, mesmo, que nos move para a frente. sem desc

UM AUMENTINHO DE NADA... GENTE EXAGERADA! (ou "ANIMAL FARM")

"ESSE SISTEMA QUE JÁ ENLOUQUECEU AS VACAS, ESTÁ ENLOUQUECENDO  OS HOMENS!" (Ahmed Ben Bella)        As vacas perante o insofismável facto de que o brejo fica mais embaixo, soltaram em uníssono um formidável " muuuu! " e piraram completamente. Para surpresa alegre dos humanos (e dos bezerros, "também seres humanos uai!") passaram a dar leite com ecxtasy, mijo com LSD, bosta da boa maria juana, carne que era viagra pura e bezerros de cinco cabeças, oito patas, quatro rabos  que já nasciam sabendo e topando qualquer abominação, ôba!      E eis que então, em um dos mais sórdidos, disciplinados e ordeiros cantos da lata de lixo enferrujada um embrião aos berros declarou-se malparido, bruceloso, gravemente míope e que preferia ter nascido miss. Dito isso morreu e os restos da explosão contaminaram o rebanho adjacente, sem contar o racho no muro da represa. Diabo Louro, tomado de surpresa, tomou mais duas e gritou "currupaco!" deixando o dire

AINDA TÃO NOVINHA... (final)

     Hoje é dia do aniversário de Brasília. Compartilhado com o festivo dia de Tiradentes e do triste anúncio oficial do falecimento do Presidente Tancredo de Almeida Neves. comemorações estão ocorrendo em diversos locais, em maior número na Esplanada dos Ministérios, imenso espaço gramado entre a plataforma rodoviária e o  Congresso Nacional, margeado pelos blocos dos Ministérios. A participação popular espontânea é incentivada pelo Governo do Distrito Federal, que também atende pela sigla de GDF.      Aqui é a cidade das siglas, falando nisso. Meu bairro, onde moro atualmente, chama-se SHIS; já fui morador da SQN 312, da 316, da SQS 106, da 405, da 416... Não lembro quando isso começou. antes, davam-se nomes aos lugares: o belo apelido de  "Cidade Livre" (que depois ganhou o esquisito nome de "Núcleo Bandeirante"), Rodoviária, Eixão Sul, Lago Sul, Lago Norte, etc. Será que foi na mesma época em que o povo passou a chamar o Presidente-Fundador carinhosamente de

AINDA TÃO NOVINHA (parte II)

     ENQUANTO ISSO Brasília começava a crescer. E esse crescimento, junto a sua consolidação  como capital do Brasil fazia igualmente com que aumentassem as manifestações contrárias a sua própria existência. Houve primeiro um movimento de alguma intensidade, visando à volta da Capital Federal para o Rio; os primeiros interessados (do ponto-de-vista deles com muita razão) eram os  cariocas, privados do lugar hegemônico que ocupavam durante praticamente dois séculos; depois parte do funcionalismo público, acostumado a "bater o ponto" nas areias de Copacabana ou nos desertos da Barra; ainda a grande parcela da classe burguesa, recém assimilada pelo trato urbano, com pavor de tudo que levemente pudesse significar uma "volta ao roçado" (e em suas pobres cabecinhas Brasília era antes de tudo essa "roça").      Havia ainda a necessidade de, através da desconstrução da política desenvolvimentista dos anos JK (o que significava, nestes termos, exatamente a total

AINDA TÃO NOVINHA...

     Brasília fará cinqüenta e três anos dia 21, domingo próximo. Eu morei aqui pela primeira vez quando ela mal havia completado dois. Não dá para comentar as mudanças que ocorreram, nem é esse o meu intuito. Mesmo porque a cidade, nos últimos dez anos, está rapidamente se transformando em uma metrópole igual a qualquer outra grande cidade. E infelizmente copiando os problemas e não as soluções de fora.       Lembro-me de quando começou a ser construída, em meados da década de 50 do último século . Naquela época as forças de oposição ao governo, encabeçadas pela antiga UDN, usavam todo e qualquer pretexto para achincalhar com o Presidente Kubistchek e seu governo. A violência atingia seu paroxismo nos inflamados discursos do brilhante e maléfico deputado Carlos Lacerda, ex-comunista, depois conservador, reacionário e oportunista político, que usava toda sua força de influência (era dono de um jornal, a "Tribuna da Imprensa") para insuflar a idiotizada classe média brasile

Literatura & Rio de Janeiro: TAMOIOS NO ARPOADOR

Literatura & Rio de Janeiro: TAMOIOS NO ARPOADOR   Quem não ler é mulher do padre!!

IDADE MÉDIA - II

     HAVIA naqueles tempos um costume: como às vezes o defunto "ressucitava" (sim! Os métodos de verificação do óbito eram extremamente precários!), era prática corrente passar uma cordinha presa em suas mãos por um orifício no esquife. do lado de fora esse cordão ficava atado a um badalo de pequeno sino. No caso de o "defunto" acordar dentro de um prazo de dois a três dias, bastava-lhe puxar a cordinha, fazendo com que o sino badalasse e ele fosse resgatado. Então temos aí a origem da expressão: "salvo pelo gongo" originalmente "saved by the bell".           E PORQUE é que dizemos "está chovendo canivete" perante um aguaceiro daqueles? Naqueles tempos as casas todas (exceção dos palácios) não possuíam teto: as traves e demais componentes da estrutura do telhado ficavam expostas. Na ocasião dos temporais, era costume colocarem-se os animais domésticos a salvo de possíveis enxurradas ou seja: dentro de casa. Como o teto das casas era b

AVISO AOS NAVEGANTES

     PARA POSTAR UM COMENTÁRIO, clique em "nenhum comentário" e mande  brasa!                 Pois é... também achei muito esquisito, mas descobri que é desse jeito...

MÊS DAS NOIVAS...

     Maio já bate às portas. Revistas e cadernos especiais estão sendo elaborados, mil e uma sugestões de vestidos, etc. etc. Só que...      ... estava olhando velhos arquivos de um antigo computador e achei um texo assaz curioso, que reproduzo com minha linguagem própria, prolixa e pobre:      Na alta Idade Média a Europa padecia da maior parte dos confortos modernos. Água, por exemplo, era do poço que geralmente ficava no meio da  vila próxima. Levar um balde com água pra casa, daqueles de madeira, já pesadíssimos quando ainda vazios, era um  grande problema e demandava imenso esforço físico.      Então os banhos eram restritos a um ou dois por ano, pois não havia o hábito de os humanos usarem os riachos e ribeirões das florestas. Esses banhos eram tomados em ocasiões especiais, um deles certamente quando o inverno ia embora e a primavera começava. O cheiro de roupas usadas durantes os meses anteriores, e dos próprios corpos era de tal ordem que mal o mês de abril chegava, os huma

M E N D A N H A

                                                                         (escrito em 2012)          O Rio Jequitinhonha, após nascer nas fraldas do Itambé, pros lados de Milho Verde e São Gonçalo do Rio das Pedras, desce com força o Espinhaço, precipitando-se em centenas de pequenas e médias cachoeiras e alguns canhões (como falam nossos primos portugueses).       Então ele encontra terreno mais friável e aí começa a cavar seu vale e a espraiar-se. Algumas vezes fica tão raso que aparece um vau, propício a travessia de homens e bichos. Daí segue até a interessante Belmonte, no litoral baiano. Antigamente havia lá um porto, que provavelmente servia aos cacaueiros, enquanto o Jorge Amado não inventava Ilhéus e a sua Gabriela.      O primeiro povoado do vale é o Mendanha. De Diamantina até lá é uma descida só, uns quinze a vinte quilômetros de asfalto. Então você sai à esquerda da estrada e de repente está na margem do Rio. Aqui um pequeno morro; do lado de lá  uma co

OUTONO

                     S I L Ê N C I O                

SEGUNDA-FEIRA

      ao Pavel Bersan, primo que fez tão cedo seu derradeiro vôo.       Esta hora da tarde faz meu mundo parecer uma ilha solitária. Mas ao longe ouço um cão latindo e pneus raspam ruidosos o asfalto na estrada próxima.   Entretanto é o momento em que os pássaros se calam e misteriosamente o mundo pára.   O silêncio permanece um instante; o primeiro trinado após a leve pausa  vem anunciar  a iminência de Vésper. Então vemos o rubro Sol, ofegante após persegui-la por sigilosas órbitas frustrantes.   A algaravia arbórea retornou ainda mais forte, enquanto o espaço perfila a fita indiana dos aviões que pedem pouso.  Em inacreditáveis tons vermelhos  explodem os céus do Oeste, logo esmaecendo lentos, pensativos,  em dulce adagio da mesma forma agora calam-se um a um os pássaros dormentes. 

SÁBADO

          A quele poema do Vinícius não sai da minha cabeça. No coração trago há muito a interpretação dele e do Quarteto em Cy. O que me leva aos meus tesouros, guardados com o devido ciúme: um deles é um CD baixado da internet. As meninas, ainda em início de carreira, foram convidadas para se apresentarem nos EUA. Lá foi feita a gravação, que ganhou o nome de "The Girls from Bahia". Coisa mais bonitinha vira o Inglês com sotaque baiano! Fosse eu homem de negócios, logo fundaria uma rede de escolas onde se ensinasse essa fala, com seu cantar único: sucesso mais que garantido. Um detalhe: seria uma escola inteiramente gratuita!      O que (outra vez!) me transporta a outro assunto: é válido franquear na internet as obras de arte? É uma interminável discussão, que vem dos tempos em que os trovadores eram pouco mais que escravos dos nobres, vivendo em seus castelos e na completa dependência deles. Isso veio perdurando até hoje, com a (importantíssima) diferença de que no lug

GUISADO À FEIÇÃO DE MURILO

(“os cavalos da aurora derrubando pianos” – Murilo Mendes, “Poema Barroco” )   De antemão prepare os ingredientes de sempre: Derrube tudo em uma caçarola bem amassada, Espante os moleques e as moscas varejeiras e Leve ao fogo branco. Ou se preferir, brando.   Em uma forma simples derrube o   conteúdo Mexendo de vez em quando. Assista a novela das oito, mande o autor passear, Peça à lindinha da vez pra namorar.   Na boca do forno, bento que bento é o frade. Coma devagar, enquanto Caminha pela estrada de Madagascar. Serve quatro.

ELEGIA

    Não. Nunca mais aquela imperecível segurança de um mundo plenamente ajustado, invisíveis e sólidas engrenagens, perfeitamente ajustadas umas às outras, cada qual em seu exato lugar. E o planeta, ainda criança, girando, eterno, em seu inabalável eixo invisível e sólido. Assim como as vidas daqueles dois pais: jamais se acabariam: jamais as vozes sempre a me consolarem iria acabar a doce melodia. Como neste exato momento em que as ouço, enquanto a noite se desdobra a Leste e a fimbria arenosa do Continente se ilumina passo a passo, como luminosas lágrimas de um sol em manto escuro. As vozes permanecem  prevenindo-me contra o sereno da noitinha e as ouço circunspecto, a alma rindo coa cômica controvérsia a respeito de sua natureza: se cai ou apenas surge da crescente umidade do lusco-fusco, misterioso fenômeno como a  luz azul de um pirilampo venusiano.   Pai e mãe afanados, pacientes, docemente irritados, docemente. Suas vozes confundem-se  -  tanto tempo já!

DUELA A QUIEN DUELA!

  para os filhos e netos   QUANDO CHOVE é que faz bom tempo! Eu sei, eu sei. É preciso alguns equipamentos chatos como guarda-chuvas, mais atenção no trânsito quando dirigir, não vá o motorista a seu lado derrapar por conta dos pneus carecas, ih, esqueci de trocar o limpador de para-brisa! Por aí vai a lista dos cuidados especiais, dia a dia maior: cada vez mais automóveis... E que chatice ter o sapato encharcado, os pés úmidos, o ar, a grama, o barro, os passeios mal conservados, o asfalto se dissolvendo com poucos dias de uso, ah! Esse período de chuva que não termina! - Sem falar nessas catástrofes todas, causadas pelo excesso das águas e a intensidade dos apavorantes temporais de verão! - Quanto a isso, a chuva não tem a menor culpa. - Hein? Como é que é? Você por acaso já se esqueceu das recentes tragédias causadas por elas? Aquele “réveillon” na Ilha Grande, a enxurrada que matou tantos nas Alagoas, em Niterói, Angra dos Reis, na cidade de São Paulo, no interi

SAUDADES DO RIO

Ir para casa ao entardecer. A residência ficava na Rua das Belas Noites, uma quase imperceptível ladeira entre a rua dos Barbonos e o Passeio Público. Neste as árvores, já de bom porte, disfarçavam a lagoa aterrada dos tempos do Vice-Rei Luís de Vasconcelos, que para tal fim mandou arrasar o morro das Mangueiras. Que ficava bem ali, onde hoje é o Largo da Lapa. Foi também o Vice-Rei o responsável pela abertura da nossa rua, a qual o povo já está apelidando "das Marrecas", por causa do chafariz de Mestre Valentim, bem lá em cima, junto com os Barbonos. Vizinha, a escola de música do Padre José Maurício, onde antigamente os jovens irmãos, o Príncipe e a Princesa tomavam aulas. Embora as infindáveis escalas praticadas no pianoforte ou no cravo amolassem um pouco pela repetição maçante, tínhamos paciência; a compensação vinha quando o próprio padre nos brindava com uma que outra de suas magníficas peças: Estudos, Oratórios Salve-Regina, Laudemus, etc. De onde igualmente fluía