Postagens

Mostrando postagens de novembro, 2010
POESIA É MUITO CHATO (final)                                                                          $$$$$ Duas da manhã as solidões se esbarram nas ruas tristes e silenciosas. Daqui seguia o jovem revisor, de lá chegava o magro poeta. Que cruzou com o primeiro, saudou-o com um boa-noite firme e sonoro e continuou seu caminho. E, como sempre ocorre com os poetas, sabendo perfeitamente onde ia mas com a lúcida percepção de que não tinha a menor idéia se ia chegar. A noção de onde se quer ir, quase todos temos; já o convencimento da incerteza do chegar, esse só mesmo com a idade. Tal noção causa aos poetas a mesma resignação do lutar com as palavras. É uma luta de amor? É dor e amargura? É apenas trabalho? Nada disso ocorria, entretanto, ao jovem operário do jornal. Em sua orgulhosa humildade dos seres tímidos, corria para casa onde a mulher estremunhada ouviu aquela história maluca de um ônibus a toda e o poeta vizinho que passeava de madrugada cumprimentando com um sonoro boa noite
POESIA É MUITO CHATO (Continuação)                                              $$$$ Calhou que era o seu ônibus, nem parara direito no ponto e aquele barulhão de lata se soltando. Subiu, havia uns quatro passageiros, o trocador sonolento, o motorista adrenalina pura. Foi um pulo, logo a Cinelândia havia ficado para trás, o Aterro corria desabalado, aquelas curvas fechadas do Morro da Viúva metiam medo, nunca soube de nenhum que tombasse, vai que aquele, justo aquele ia ser o primeiro, parecia que o maluco do chofer tinha parte ou estava tomado, também podia ser que fosse pinga, Botafogo, Túnel, cortar a Praça Demétrio Ribeiro flechando rumo à Barata Ribeiro, de novo parecia que... Os sinais todos verdes, ou era assim que o motorista os enxergava. Puxou a cordinha, esse aloprado nem vai ouvir ou só resolve parar lá na General Osório. Sofreou o monstro bem no seu ponto, o maluco saudou-o com o ar mais normal, um boa-noite sorridente de quem está em paz com a vida, haja entender! Ne
POESIA É MUITO CHATO A careca brilhava. Ela mais os pequenos óculos redondos conferiam-lhe um ar circunspecto, quase triste. Naqueles tempos em que as pessoas faziam cerimônia umas com as outras, isso bastava. Entendiam o recado e mantinham distância. Aquele canto do bairro, no final da praia, passava então a ser um lugar bem seguro, quase um esconderijo. O jovem revisor do jornal, ainda funcionando no “Castelinho” da Avenida Rio Branco 110-112, vinha tarde da noite para casa. Às vezes ainda mais: calhava de o teletipo na redação começar a pipocar - algum maluco fizera um desatino qualquer do outro lado do planeta – logo vinha a ordem: pára tudo; segundo clichê! Ele e mais vinte colegas ficavam fumando, tomando café, fumando, contando piada, fumando e esperando descer o telegrama, já retrancado e com um “lead” que, no mais das vezes, mostrava para quem tinha um mínimo de experiência o cansaço e a pressa do redator em se ver livre daquilo. Então descia a matéria: um pequeno desv
 O TEMPORA...      Está novamente aberta a Temporada de Caça ao Cargo. Peralvilhos antigos, velhos e conhecidos casquilhos, todos se aprestam. Uma palavrinha aqui, um jornalista amigo ali, uma notinha plantada, um boato... Nesses momentos lembro Tancredo Neves Presidente eleito, a um desses curiosos espécimens humanos, que lhe dizia estar muito assediado por amigos e correligionários que davam sua nomeação para um ministério como consumada, convite feito pelo próprio Tancredo. E perguntava a este o que deveria responder aos outros. "Diga que você foi convidado por mim, meu filho, mas infelizmente não pode aceitar"...       OUTRO que vêm-me à mente é o certeiro Artur Azevedo, um cronista bastante esquecido, mas que teve seu momento de Estanislau Ponte Preta,  e fama talvez ainda maior do que deste último, no Rio de Janeiro de fins do Século Dezenove. Admira-me sobremaneira a atualidade de seu epigrama "Velha Anetoda": "Tertuliano, frívolo peralta, Que foi um
HAI-KAI  PRIMAVERA trilha de terra caminho enganalado flores de flamboyant

PALAVRAS...

Imagem
          Imagens. Quando um ser humano genial como o argentino Quino consegue exprimir em singelas imagens o que talvez não conseguiria dizer em um "post" imenso, calha mais é publicar seus cartoons, e dizer: modestamente, assino embaixo!                                                                             Paulo

E A FRANÇA, MAIS UMA VEZ, SAIU NA FRENTE...

Imagem
EM 1914 o "Almanaque Parisiense" (que nada mais era que um dos popularíssimos folhetos de propaganda de laboratórios farmacêuticos, antigamente distribuidios nas boticas) publicou o anúncio abaixo reproduzido. O assunto só agora volta à baila, com o referendo californiano sobre a liberação da canabis e - coisa de menos de vinte anos -  com a permissão de uso em vários países europeus.      Sei não, mas o que me parece é ser um daqueles remédios para todos os males, mais conhecido como PANACÉIA. A maconha provoca um estado eufórico transitório e, por isso, é  prazeroso usá-la. E tenho dito.