POESIA É MUITO CHATO (final)


                                                                         $$$$$
Duas da manhã as solidões se esbarram nas ruas tristes e silenciosas. Daqui seguia o jovem revisor, de lá chegava o magro poeta. Que cruzou com o primeiro, saudou-o com um boa-noite firme e sonoro e continuou seu caminho. E, como sempre ocorre com os poetas, sabendo perfeitamente onde ia mas com a lúcida percepção de que não tinha a menor idéia se ia chegar. A noção de onde se quer ir, quase todos temos; já o convencimento da incerteza do chegar, esse só mesmo com a idade. Tal noção causa aos poetas a mesma resignação do lutar com as palavras. É uma luta de amor? É dor e amargura? É apenas trabalho? Nada disso ocorria, entretanto, ao jovem operário do jornal. Em sua orgulhosa humildade dos seres tímidos, corria para casa onde a mulher estremunhada ouviu aquela história maluca de um ônibus a toda e o poeta vizinho que passeava de madrugada cumprimentando com um sonoro boa noite, sem saber que ia virar estátua de banco da praia.(Brasília, agosto 2010)

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

PARA BOI DORMIR...