AINDA TÃO NOVINHA (parte II)

     ENQUANTO ISSO Brasília começava a crescer. E esse crescimento, junto a sua consolidação  como capital do Brasil fazia igualmente com que aumentassem as manifestações contrárias a sua própria existência. Houve primeiro um movimento de alguma intensidade, visando à volta da Capital Federal para o Rio; os primeiros interessados (do ponto-de-vista deles com muita razão) eram os  cariocas, privados do lugar hegemônico que ocupavam durante praticamente dois séculos; depois parte do funcionalismo público, acostumado a "bater o ponto" nas areias de Copacabana ou nos desertos da Barra; ainda a grande parcela da classe burguesa, recém assimilada pelo trato urbano, com pavor de tudo que levemente pudesse significar uma "volta ao roçado" (e em suas pobres cabecinhas Brasília era antes de tudo essa "roça").
     Havia ainda a necessidade de, através da desconstrução da política desenvolvimentista dos anos JK (o que significava, nestes termos, exatamente a total eliminação do getulismo a qualquer preço) , consolidar um movimento de luta pelo poder que afinal se traduzia pura e simplesmente na destruição de tudo que "cheirasse" a PSD e pior, PTB. em outras palavras, os fins justificavam os meios.(*)  
     A boataria tomava cada vez mais corpo: era a volta da capital; era a venda do DF para a ONU, que instalaria(!) a sua sede no Planalto Central; eram as condições climáticas que hostilizavam a vida humana a ponto de inviabilizá-la;   por fim um conjunto de falsas "notícias" que punham em constante tensão as populações deste (na época)ermo, e alimentavam o sentimento crescente de incompreensão e repúdio ao que Brasília-hipótese era, no lugar da Brasília-meta síntese que deveria ter sido.



(*) Afonso Arinos de Melo Franco, prócer udenista, mas com miolos e raciocínio no lugar de ressentimentos e complexos, a respeito disso declarou em entrevista a Maria Victoria de Mesquita Benevides (apud "O Governo Kubitschek - Desenvolvimento Econômico e Estabillidade Política - 1956-1961" - Editora Paz e Terra, Rio de Janeiro, 1976) que o papel da UDN como principal oposição ao govêrno, "revelava uma denúncia da ditadura, pelo Estado de Direito, mas também em termos de uma luta que, no final das contas, se convertia em bloqueio às atitudes progressistas de Getúlio Vargas no campo social. Em outras palavras, sob a capa do combate 'histórico' ao caudilhismo a UDN encarnava um bastião contra as chamadas medidas progressistas e, neste sentido, perdia o sentido da História" (p. 63, ob. cit.)

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