AINDA TÃO NOVINHA...

     Brasília fará cinqüenta e três anos dia 21, domingo próximo. Eu morei aqui pela primeira vez quando ela mal havia completado dois. Não dá para comentar as mudanças que ocorreram, nem é esse o meu intuito. Mesmo porque a cidade, nos últimos dez anos, está rapidamente se transformando em uma metrópole igual a qualquer outra grande cidade. E infelizmente copiando os problemas e não as soluções de fora. 
     Lembro-me de quando começou a ser construída, em meados da década de 50 do último século . Naquela época as forças de oposição ao governo, encabeçadas pela antiga UDN, usavam todo e qualquer pretexto para achincalhar com o Presidente Kubistchek e seu governo. A violência atingia seu paroxismo nos inflamados discursos do brilhante e maléfico deputado Carlos Lacerda, ex-comunista, depois conservador, reacionário e oportunista político, que usava toda sua força de influência (era dono de um jornal, a "Tribuna da Imprensa") para insuflar a idiotizada classe média brasileira.
     O resultado desse "fogo de barragem" veio com a eleição do presidente seguinte, o ex-Governador do estado de São Paulo, Janio da Silva Quadros. Um populista demagogo menor, sem preparo algum,  tanto político ou  intelectual quanto emocional para exercer a Presidência da República. Sem plano ou como estava na moda, alguma meta governamental, limitava-se a atos que demostravam seu atabalhoado pensar: proibiu desfiles de miss em vestes sumárias, briga de galo, criou um uniforme para o funcionalismo, em suma, seus atos demonstravam a triste realidade: eram atitudes de prefeito de pequena cidade interiorana.
     Sob frequente e cada vez mais intensos rumores de tratar-se de um dipsômano, acabou  renunciando ao cargo antes de completar dez meses de mandato, alegando pressões nunca esclarecidas suficientemente: as famosas "forças ocultas" (que a galhofa popular transformou em marca de cachaça). Jogou fora, assim, os milhões de  votos conquistados graças ao teatral apelo pela moral e bons costumes às citadas forças de uma idiocracia atarantada e apedeuta. Essa classe média subitamente órfã, aterrorizada pelos primeiros esgares e "pronunciamentos" políticos da direita militar(*), procurou  uma solução de consenso, no lugar de seguirem a receita mais simples e mais direta: a prevista na  Constituição do Brasil.
     Toda a crise provocada pelo mal-estar pós alcoólico do ex-presidente foi "resolvida" então com a habitual farsa histórica: optou-se pela chamada solução de compromisso e de um dia para outro, sem maiores debates ou considerações a respeito da profunda modificação estrutural  que isso  representava, veio o parlamentarismo. Assim, o Vice-Presidente da  República, Jango Goulart, "tolerado" com extrema má-vontade pelos golpistas, pode ser empossado como Presidente parlamentar, sendo o Chefe do Executivo o político mineiro Tancredo de Almeida Neves.
     Esse esfarrapado "penso", aplicado em antigas feridas não cicatrizadas, vindas de 1930 e de ainda antes, da própria Proclamação da República (que em realidade foi um golpe militar), logo mostrou a todos sua inviabilidade, enquanto o Presidente Jango, hábil e astuto político gaúcho, usava seu prestigio junto às classes trabalhadoras e sua hegemonia política dentro da aliança que o fez companheiro de chapa, na eleição de 1955. Dessa forma, em meio a crises constantes e cada vez maiores (houve mais dois Primeiros-Ministros após o primeiro), optou-se por um referendo popular através do plebiscito que, realizado em janeiro de 1963 (com "autorização" dos ministos militares) tornou extinto o regime parlamentarista, assumindo definitivamente as funções de chefe do Poder Executivo o Presidente João Belchior Marques Goulart (continua amanhã)
 
(*) Lembro perfeitamente que a imprensa dava um desproporcional e imerecido destaque às reuniões do "Clube Militar", onde imperavam as vozes tronitroantes e ameaçadoras de um punhado deles, que graças a esse destaque, conseguiam fazer empalidecer  a obediencia à  hierarquia, à disciplina e aos bons modos que os oficiais das três armas adquiriam em suas escolas formadoras.

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