AINDA TÃO NOVINHA... (final)

     Hoje é dia do aniversário de Brasília. Compartilhado com o festivo dia de Tiradentes e do triste anúncio oficial do falecimento do Presidente Tancredo de Almeida Neves. comemorações estão ocorrendo em diversos locais, em maior número na Esplanada dos Ministérios, imenso espaço gramado entre a plataforma rodoviária e o  Congresso Nacional, margeado pelos blocos dos Ministérios. A participação popular espontânea é incentivada pelo Governo do Distrito Federal, que também atende pela sigla de GDF.
     Aqui é a cidade das siglas, falando nisso. Meu bairro, onde moro atualmente, chama-se SHIS; já fui morador da SQN 312, da 316, da SQS 106, da 405, da 416... Não lembro quando isso começou. antes, davam-se nomes aos lugares: o belo apelido de  "Cidade Livre" (que depois ganhou o esquisito nome de "Núcleo Bandeirante"), Rodoviária, Eixão Sul, Lago Sul, Lago Norte, etc. Será que foi na mesma época em que o povo passou a chamar o Presidente-Fundador carinhosamente de "JK"?
     Mas essa  liberdade  que desfrutamos atualmente foi conseguida a duras penas e ao longo de uma luta constante. Contra, principalmente, os militares que durante o período da ditadura governaram nosso país. Naquela infeliz época Brasília era vista como um quartel-general e administrada como tal. Os ditadores e seus estrategistas perceberam que um lugar (à epoca) isolado e de difícil acesso era ideal para que o poder pudesse ser exercido de  forma discricionária, como o foi. 
      O primeiro movimento popular espontâneo que deixou atônita a classe militar ocorreu durante o enterro do Presidente JK. Seu esquife, literalmente arrancado das mãos dos soldados, foi conduzido até o cemitério pelo povo, pelos "candangos" que graças a ele tinham pela primeira vez na história, se transformado em cidadãos, nesta  sociedade injusta e desigual.
     Já a primeira manifestação política foi o protesto estudantil-popular contra a invasão militar da UNB (a sigla da Universidade de Brasília) e a cassação de inúmeros professores, pugilo de mestres de todas as ciências, que responderam ao chamado dos inesquecíveis Darcy Ribeiro e  Anísio Teixeira. A repressão a esse legítimo movimento popular foi de tal ordem que a população brasiliense (e das chamadas "cidades-satélites) passou a se politizar: à luta pela melhoria das condições individuais de vida somou-se e mesclou-se pela primeira vez à consciência de que a obtenção de um bom padrão econômico não podia ser dissociado da aquisição de um grau de liberdade e poder popular.
     Esse verdadeiro processo dialético no qual hoje podemos reconhecer os postulados básicos de proposição ou tese, a sua antítese  e ao longo do tempo a dura construção sintética, foi por isso mesmo sistematicamente combatido como subversão ou esquerdismo e quejandos.
     Tal consciência, aos poucos adquirida, não é fruto de um desejo individual nem se consolida pela vontade de um grupo, por mais que este possa querer e disponha de meios - lícitos ou ilícitos - para sua concretização. O verdadeiro "ser político" não é o que pensa no resultado imediato de uma luta pelo poder: é aquele que, por meio de estudo, reflexão e inteligência percebe a direção que o povo  está tomando ao longo das décadas (ou mesmo dos séculos) e a ela responde, facilitando sua marcha.
     Pois isso, impulsinada pelo seu povo (composto de brasileiros de todas as origens) Brasília cresceu e cresce a cada dia. E apesar de haver tomado caminhos que sequer puderam ser imaginados pelos  patriotas brasileiros liderados por JK, no processo de modernização urbana e industrial de que o Brasil sempre careceu, cumpriu-se o destino dessa maravilhosa cidade: hoje é sem dúvida a meta síntese de um país que vem a cada dia se tornando uma pátria para todos os seus filhos.
     A atração que a cidade exerce sobre os despossuídos, os necessitados, a classe média empobrecida de Norte ao Sul, acaba por validar a concentração imensa, que faz a região periférica cada dia maior (e mais violenta [*]). Assim como a atração que a política passou a exercer nos criminosos de todos os matizes que para cá confluem graças a compra de mandatos populares e à manipulação dos desinformados. Esses dois fatores não podem ser vistos como "culpa" ou consequência de "alguma coisa maléfica no ar": é e sempre foi o sofrido e violento processo histórico pelo qual a colônia passou e ainda (em certas regiões "coloniais") passa, até sua total consolidação como nação soberana  e auto-governada.
     Desse modo a cidade de Brasília e o Distrito Federal têm dado ao país o exemplo e o estímulo necessário para o descarte desses bandidos: aqui já cassamos um Presidente da República, um Governador (este até mesmo preso durante um bom par de meses), Senadores da República e alguns outros malfeitores. Por isso a conclusão de que a Capital do Brasil vem atingindo dia-a-dia, o propósito de sua construção: o verdadeiro símbolo nacional. Venturi Ventis.    
    

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