SÁBADO

    

     Aquele poema do Vinícius não sai da minha cabeça. No coração trago há muito a interpretação dele e do Quarteto em Cy. O que me leva aos meus tesouros, guardados com o devido ciúme: um deles é um CD baixado da internet. As meninas, ainda em início de carreira, foram convidadas para se apresentarem nos EUA. Lá foi feita a gravação, que ganhou o nome de "The Girls from Bahia". Coisa mais bonitinha vira o Inglês com sotaque baiano! Fosse eu homem de negócios, logo fundaria uma rede de escolas onde se ensinasse essa fala, com seu cantar único: sucesso mais que garantido. Um detalhe: seria uma escola inteiramente gratuita!
     O que (outra vez!) me transporta a outro assunto: é válido franquear na internet as obras de arte? É uma interminável discussão, que vem dos tempos em que os trovadores eram pouco mais que escravos dos nobres, vivendo em seus castelos e na completa dependência deles. Isso veio perdurando até hoje, com a (importantíssima) diferença de que no lugar de um punhado de nobres e suas respectivas cortes temos os bilhões de usuários da net, espalhados por todo o planeta. E agora? 
     Dentre as inúmeras anedotas no meio musical, existe uma que acho a mais interessante: Haydn havia sido contratado pelos príncipes Esterházy, "donos" da Hungria e adjacências. Acabou o prazo do contrato mas o príncipe fingiu não saber disso e continuava a exigir dos músicos ao menos uma audição diária. Estes estavam muito incomodados, pois o inverno já chegava e com ele as imensas dificuldades de voltarem a suas respectivas casas. Pediram a intercessão de "Papa" Haydn (assim apelidado pelos outros devido à sua idade). Este teve então uma idéia genial: compos uma peça em que no último movimento os músicos iam deixando o palco um a um, até que por fim só restasse um deles, responsável pelo acorde final.O príncipe entendeu o recado e liberou-os para as merecidas férias.  
     Hoje a profissão de músico é mundialmente reconhecida e igual a qualquer outra. Mas quanto à criação, essa pode da mesma maneira ser "regulamentada"? Existe um direito de autor sobre um poema enquanto ele é composto? Ou uma interpretação especialíssima, na qual o músico alcança de maneira exata e completa a intenção do compositor? A discussão não acaba, e cá para nós é mesmo impossível vermos seu fim,enquanto a humanidade existir.
     Enquanto isso vou escutando meus disquinhos baixados  "para uso próprio e individual". Se todos os internautas assim o fizerem, a indústria do entretenimento acabaria. quem sabe a hora desses modernos barões não tenha também chegado? Príncipes: recolhei-vos a vossa insignificância, a vossa paupérrima ganância deixem-nos curtir as musas em paz! 

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