ELEGIA

 
 
Não. Nunca mais aquela imperecível segurança de um mundo plenamente ajustado,
invisíveis e sólidas engrenagens, perfeitamente ajustadas umas às outras,
cada qual em seu exato lugar. E o planeta, ainda criança,
girando, eterno, em seu inabalável eixo invisível e sólido.

Assim como as vidas daqueles dois pais:
jamais se acabariam: jamais as vozes sempre a me consolarem iria acabar a
doce melodia. Como neste exato momento em que as ouço, enquanto
a noite se desdobra a Leste e a fimbria arenosa do Continente se ilumina passo a passo,
como luminosas lágrimas de um sol em manto escuro.

As vozes permanecem  prevenindo-me contra o sereno da noitinha
e as ouço circunspecto, a alma rindo coa
cômica controvérsia a respeito de sua natureza:
se cai ou apenas surge da crescente umidade do lusco-fusco,
misterioso fenômeno como a  luz azul de um pirilampo venusiano.
 
Pai e mãe afanados, pacientes, docemente irritados, docemente.
Suas vozes confundem-se  -  tanto tempo já! Não sei mais o que dizem,
apenas ouço as vozes e os sons que me acariciam e pesam
em palpebras dormentes.
Hoje o silêncio se desdobra em ecos de saudades pois o coração se conforma ao ver a noite cair,
essa noite que vem para todos e um dia se fará escura para mim também.
 

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