O LIXÃO DE DAVOS



                                                                   


     LEIO na internet que uma foto obtida em lixão de Gana foi premiada com muitos dólares pela Unicef. Além claro, do reconhecimento mundial do seu autor, um fotógrafo alemão chamado Kai Loffelbein. As várias localidades (ou sítios) onde pesquisei o assunto chamam a atenção para o fato de ser um lixão de "dejetos tóxicos" provenientes da Europa. A Unicef usa a foto como propaganda e divulgação para seus programas de amparo à infância em condições extremas mundo afora. Não esclarece, no entanto, o que aconteceu com o menino, que aparece erguendo como um troféu mortal um tubo CRT, sigla inglesa para tubo de raios catódicos. Espero que ele tenha conseguido salvar-se do quase certo envenenamento e progredido para, pelo menos, conseguir "encher" o uniforme futebolístico que enverga, muitas vezes o seu tamanho.
     ENQUANTO ISSO, Davos, uma estação alpina onde antigamente existiam sanatórios para tuberculosos - foi cenário do romance "A Montanha Mágica" de Tomas Mann - Hoje presta-se para anualmente em janeiro sediar uma espécie de colegiado onde se reúnem e discutem variados assuntos os mais importantes líderes mundiais, banqueiros, financistas, plutocratas e, ultimamente, vips do "jet set" e artistas de vários ramos do "show bussines" Certamente não será mencionado o lixão de gana, o fotógrafo e o menino.
     Atualmente ocorre um fenômeno com as fotos: a distância entre esta e seu objeto é cada vez maior. A fascinante história da fotografia ainda nos empolga, certamente,  temos os nossos artistas cada vez mais reconhecidos, com justiça, mundo afora. Esse elemento cultural adquiriu, a partir do século passado, status de verdadeira arte, como todos sabemos. 
     Isso tudo, me parece, trouxe um grande distanciamento entre a foto em si e o objeto fotografado. Por mais que a sensibilidade do fotógrafo seja aguçada por detalhes que a nós passariam desapercebidos, por mais que a emotividade, a cumplicidade moral, a solidariedade emocional possam ser desencadeadas no artista naquele momento único, a apreciação do trabalho fatalmente dar-se-á, nos outros profissionais, pelos aspectos técnicos, e no público em geral, através do apelo emocional que a foto tenha. Ficamos compungidos, entristecidos ou mesmo enraivecidos momentaneamente com a desigualdade social dia a dia mais gritante e então, saciados moralmente, vamos jantar.
     Certamente é o que ocorre em Davos. Jamais ocorreria aos europeus fazer dos alpes um local de despejo dos seus dejetos hospitalares, electrónicos, e outros. Jamais será tema de debates o montante de divisas que Gana e outros países miseráveis do mundo recebem para recolherem essa porcariada toda, ou o uso que fazem desse dinheiro. O lixão de Davos continua em terras d'África, os mandatários continuarão - o trocadilho vem a propósito - "se lixando" para essas contingências menos nobres do que como ficar mais e mais ricos.
     Falando nisso, não sei o que o Sr. Levy foi fazer lá, além de mendigar uns trocados benevolentes para nosotros. Melhores financistas temos, a começar pelo Sr. Abravanel, conhecido como Sílvio Santos, que dá aulas de como ficar rico a qualquer um no mundo. Senor Abravanel possui em seu DNA, há mais de quinhentos anos, esse gene ou lá o que seja. Um de seus antepassados foi o único judeu que os reis católicos, Isabel e Fernando, não consentiram que fosse expulso, uma vez que era o principal conselheiro de finanças,  um Ministro da Fazenda daqueles tempos. Mutatis mutantis...

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