SUZANA DE MORAES

     Há um Vinícius de Moraes pouco menos conhecido, aquele das crônicas. Tempos antigos, quando a crônica diária ou semanal imperava na maioria dos jornais e das revistas brasileiras, e quase todos os nosso escritores a praticavam. Hoje estão em livros, reeditados sem parar - ainda bem!
     Em uma de suas crônicas Vinícius fala justamente de sua filha Suzana, que acabara de casar com um diplomata. O casal ia para a Europa e isso serviu de motivo para Vinicius pedir de volta  o quadro de Portinari onde o próprio Vinicius era retratado. Suzana, uma noiva de apenas 19 anos, recusou-se decididamente a ceder ao desejo paterno. Daí então a crônica(*), um pouco melosa mas muito bem escrita, que me "apresentou" naquela ocasião a minha contemporânea.
     Depois desse episódio pouco ouvi falar a respeito dela. Imagino que, após aqueles efervescentes anos sessenta e setenta, tenha vivido uma vida mais recolhida, distante dos holofotes cinematográficos,  da ribalta e das TVs. A notícia de sua morte, entretanto, apanhou-me de surpresa: alguém praticamente da minha idade, de cuja existência fiquei sabendo graças a uma crônica do seu pai escrita quando ambos -  ela e eu - éramos ainda bem jovens; cuja vida pouco acompanhei depois, até que a brutalidade do golpe militar amordaçou e mutilou tantas vocações. Sabia de uma valente Suzana,  na primeira fila das marchas de protesto, braços dados com outras personagens de nossa vida artística e intelectual. Soube depois de uma talentosa atriz de cinema trabalhando com nossos melhores diretores em filmes que fizeram época.
     E o tempo passou. Hoje, a notícia triste: Suzana de Moraes faleceu. Com ela, apesar de nunca a ter conhecido pessoalmente, foi-se um pouco da juventude, da alegria de viver. Sobra um coração já maltratado de outras faltas, entristecido e nostálgico, onde mais e mais as saudades se juntam e não aquecem mais nada.
(*) Chama-se "Retrato de Portinari" , páginas 29-31 da 3ª Edição do livro "Para Viver um Grande Amor" Ed. do Autor, Rio de Janeiro - 1965

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