A LISTA DO SUPERMERCADO DA CORRUPÇÃO - IV


     
      O caos permanente provocado por um tecido social de baixíssima qualidade, originado primeiramente pelo obscurantismo dos primeiros "descobridores", já eles patronos de um tipo de estado e nação ultrapassado e sem lugar no mundo, foi o pecado original da nossa sociedade.
      E de lá até hoje ainda não conseguimos nos livrar desse anátema, dessa abominação que nos tornou reféns de uma crise na qual tentamos ir sobrevivendo há mais de cinco séculos, ora recrudescente ora dissimulada, mas presente, sempre presente.
      É, convenhamos, maneira extremamente perversa e cruel de viver. Geração após geração, os sobressaltos se renovam. Os assaltos ao Estado se sucedem da parte dos mais ousados ou menos temerosos, a maior parte das vezes com sucesso, dada a fragilidade dos meios coibidores dessas ações perniciosas. 
      Além de extremamente incompetentes, as diversas agências governamentais criadas no calor de sucessivas crises e destinadas a combater e coibir tais práticas criminosas são em grande parte infiltradas por rivalidades políticas que as levam a competir entre si, até o ponto do entredevoramento. 
      Daí temos o funesto resultado da inocuidade dos famosos "rigorosa apuração dos fatos", "custe o que custar", "doa a quem doer", retórica despida de qualquer sentido prático, mendaz e perniciosa, que os divulgadores se apressam em tornar públicos, funesta prestidigitação que faz valer o rumor, a balela gratuita e mendaz, em lugar dos fatos.
      A nação debilitada e sem rumo segue presa de aventureiros de todo tipo, de assaltantes truculentos, finórios oportunistas, até grandes operadores de planos bem articulados. Os poucos justos se desesperam, vendo o esforço nacional ser espoliado por grupelhos e quadrilhas,  sem que a imensa maioria tenha acesso ao menos aos serviços e oportunidades obrigatórios em qualquer estado organizado. A justiça enreda-se em leis e regulamentos às vezes conflitantes, em recursos infindáveis e sem outro propósito que o protelatório deixando assim de cumprir seu papel de atender às demandas populares pela imensa distância na qual paira. Lerda e por isso mesmo extremamente onerosa, eivada de recursos a mais das vezes protelatórios, ainda por maior infelicidade é vítima de seus principais operadores. Estes que deveriam ser também guardiães da moral pública, infelizmente cultivam ao delírio o egocentrismo e o narcisismo mais boçal, falham clamorosamente  no dever fundamental a que se vincula: dizer a lei, jurisdicto; fazer chegar até o povo o devido processo legal que objetiva sempre, a Justiça. 
      Desse modo ferido, frustrado, afastado das riquezas que o país tão "generosamente" dispersa aos quatro ventos, seu povo rasteja no inferno periférico onde penam imensas parcelas do povo brasileiro. Esses infelizes, o Estado ignora-os; ou, quando para eles olha, é com a feroz mirada da repressão, pretextando zelar pela "segurança" e pela "paz social". Nessas camadas onde sobrevive precariamente a maioria, a convivência permanente com extremos da violência e de abusos inomináveis. De outra parte a obrigação estatal insculpida em nossa Magna Carta, saúde, educação, emprego, moradia, transporte, saneamento básico, luz, água, cultura, diversão, repouso remunerado e mais um sem número de obrigações são ignoradas pela criminosa omissão estatal.
      O brasileiro odeia e despreza o Estado; por que? Porque desde que começou a existir ele jamais se despiu da fantasia da imensamente arcaica contra-reforma, dos usos e costumes medievais. Parado no tempo, é generoso com pouquíssimos e verdugo implacável de quase todos. Pela sua própria constituição histórica que nunca abandonou e da qual jamais conseguiu evoluir, deixou-se envolver por uma muralha inexpugnável criada pelos oportunistas e aventureiros de toda espécie, que usufruem de todo privilégio e esbanjam toda a imensa riqueza de uma das maiores economias do mundo, deixando a população à míngua. 
(Continua depois)
      

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