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                                                            APÓS O CARNAVAL



Começo das aulas, toda aquela atrapalhação. Onze anos, primeiro ginasial. No lugar de uma professora, agora eram muitos. Cumpria saber o nome de cada um, principalmente guardar-lhes as idiossincrasias, modos, manias, o que fazer, quando falar, responder a chamada a cada uma das aulas. estava muito inseguro com tanta novidade.


No primeiro intervalo – era preciso prestar atenção e jamais voltar a dizer recreio – espantou-se com o número de alunos mais velhos e a algazarra que produziam. Logo percebeu que ele e os demais colegas do primeiro ano eram invisíveis. Sequer as garotas da turma, algumas já botando corpo, eram olhadas.


O pai fora com ele no início. No primeiro dia chegou a entrar na escola e ir até o grande pátio interno. Depois só o acompanhava na viagem de ônibus, o percurso durava mais de uma hora. Finda a primeira semana, passou a ir sozinho. Seguia até o ponto próximo a sua casa, esperava o coletivo que ali ainda estava bem vazio, escolhia um lugar na frente para ir cismando até que todos aqueles quilômetros findassem e fosse sua parada. Gostava mais da volta: ia andando por uma estreita rua onde só pedestres circulavam admirava as vitrinas, tentava ler os nomes enquanto desviava da multidão que ia e vinha pela mesma via. Imaginava de onde haviam vindo todas aquelas mercadorias de uma imensa loja, já quase no final: imensos vasos com desenhos impressos na cor azul, caixas com filigranas, xícaras, copos, pratos, talheres e uma infinidade de outros objetos cuja utilidade nem desconfiava. Atraía-o a policromia exuberante que fazia brilhar as três ou quatro portas do grande empório. O nome invocava viagens, lugares misteriosos, gente esquiva: Casa da América e China...


Então a ruazinha se abria em outra muito mais larga, cheia de bondes e ônibus. A cacofonia era um contraste brutal com o relativo sossego de antes. Havia um sinal luminoso que sempre ficava amarelo e logo vermelho assim que avistava o menino,. Ele passou a notar a evidente implicância do semáforo. Parava na beirada da calçada e logo a multidão se formava e ia forçando-o cada vez mais para a frente: dava um ou dois passos no leito da rua, ficava atento principalmente aos bondes que não tinham como desviar. Aquela massa de gente espremida ia pouco a pouco se derramando por toda a parte como um latão de leite derramado, o apinhamento tomava conta do caminho. Então o sinal ficava verde, aquele troço de pessoas ia correndo ao encontro da outra multidão que vinha do lado de lá.


A enorme loja da “Drogaria Granado” ostentava com orgulho sua produção em vitrines impecáveis: sabonetes, talcos, polvilho antisséptico. Lá dentro os balconistas azafamados, um burburinho crescia no ar mas logo arrefecia, já estava chegando no prédio da esquina, ali ficava o Instituto do Açúcar e do Álcool, achava o nome imponente, não sabia porque.


Logo o cheiro de maresia tomava suas narinas, estava na grande praça onde ficava o ponto inicial do ônibus para a sua casa. Do outro lado um enorme edifício, o entreposto de pescado. no mar havia um atracadouro protegido onde balouçavam inúmeros barcos de pesca ostentando nomes como “Jandira”, Estrela Dalva”, “Januário- II”, “Esmirna”. Perto dali partiam as lanchas mas estas só iam até um outro local da ilha, muito distante de casa. No meio da praça um obelisco em forma piramidal, a base entretanto era pequena em relação à altura, um monumento, um dia o pai explicou-lhe, homenagem a alguma coisa remota e esquecida de quase todos.


Depois de um tempo descobriu na lateral do largo uma passagem em forma de arco, com a abóbada em pedra de cantaria. Houve um Teles, aquele havia sido seu arco. sorriram quando ele disse essa tolice com ar sério, intelectual.

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