ISSO LÁ É COISA PARA SE LER EM UM SÁBADO?

      Antes de dormir, peguei ao acaso um livro para chamar o sono. O autor, antigo jornalista, o Sr. Hildon Rocha é referido com muito respeito pelo seu trabalho por políticos brasileiros da mais alta estirpe. O livro chama-se "Memória Indiscreta". Uma coletânea de artigos e ensaios dos tempos em que Hildon, ainda jovem, acompanhava a Câmara dos Deputados em funcionamento no antigo Distrito Federal,  Palácio Tiradentes. 
      A medida que ia lendo, meu espanto também aumentava, até o estarrecimento: a narrativa era sobre o processo (acontecido em 1947/48) destinado a colocar na ilegalidade o antigo Partido Comunista Brasileiro, o PCB e consequentemente cassar o mandato popular dos seus representantes eleitos. As manobras, os discursos parlamentares, as tergiversações, as traições, resumindo: toda a sórdida receita que o parlamento usou na ocasião, lá estava. Poucos parlamentares que honravam o voto recebido, versus  imensa maioria de oportunistas maiores e menores, resvalando na marginalidade abjeta de interesses escusos. Igual ao que agora há pouco testemunhamos.  Os atores do drama, inclusive, usavam as mesmas palavras que foram cuspidas pelos parlamentares atuais, quando da sessão destinada a aprovar o pedido de impedimento da Presidenta Dilma Roussef.
      De repente comecei a ver, no relato do jornalista retratos de corpo inteiro dos atuais deputados e deputadas: o fascista espumante, a madame interiorana que "homenageava" o marido preso na manhã seguinte, os patriotas de momento   (que corroboravam o conhecido ditado "o patriotismo é o último refúgio dos canalhas"), mal embrulhados no Pavilhão Nacional - não seria o caso de haver lei que coibisse o uso desse Símbolo da Pátria como fantasia de filibusteiros? - os "filhinhos de papai", herdeiros de mandatos por uma espécie de "direito divino" dos coronéis, na verdade jovens facinorosos descendentes de oligarquias mafiosas que até o presente momento infestam a política provinciana, todo o elenco das mazelas acumuladas desde que optamos pelo sistema republicano de governo autoritário e injusto. 
      Larguei de lado o livro e tentei dormir. Desanimado, desiludido e bastante irritado, custei a pegar no sono reconhecendo, ainda mais uma vez, que em nações como a brasileira, onde não existe ainda vivo e atuante o cidadão, inexiste da mesma forma a História, mas uma farsa ominosa repetida e repetida infinitamente.

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