PORQUE HOJE É SABADO


      O TÍTULO homenageia a querida e sempre lembrada Cecília Meireles, poeta das maiores. Certa vez ela reuniu em livro algumas deliciosas crônicas e editou sob o nome que usei titulando esta postagem. É edição bem antiga. Quem ficou interessado talvez ache em  sebos.  Vale a pena.
      Aliás o título, para mim, tem outros significados: quando levantei pensava escrever aqui algo sobre a política e os seus agentes. Fui salvo exatamente por que lembrei mais uma vez e disse para mim mesmo: tá louco? Hoje é sábado! Então meu cérebro, sempre prestativo, emendou para mim a data,  com as meninas do quarteto em Cy, mais Vinicius interpretanto o poema deste último.
      Mas então o quê? sobre o quê escrever? Bem, sábado é um dia em que os zoológicos se entopem de crianças e adultos abestalhados, olhando para os bichos - que cometeram o "crime" de serem bichos e por isso foram enjaulados - e ingerindo milhares e milhares de calorias em formato pipoca, refrigerante, cachorro quente, fritas  e uma ou outra guloseima açucarada como determina a tal civilização.
      Mas tirando os maus e costumeiros hábitos e essa história tão triste de zôos e bichos trancafiados, lembrou-me de falar de animais mais sortudos: os que temos em nossas casas, apelidados "de estimação": todo mundo tem. Até o mais pobre, o mendigo, o sem-teto, o bêbado, o equilibrista, o maquinista, o foguista, o ciclista, etc, todo mundo tem um. Além dos que habitam nossos sombrios e desconhecidos desvãos mentais, somos quase sempre adotados por algum ou alguns animal(ais) que desapercebidos no início, transformam-se em parte indissolúvel do nosso cotidiano.
      Nossos inseparáveis amigos podem ser cachorros, gatos, porquinhos da índia, leitões verdadeiros, cobras, lagartos, micos, a lista é infindável. Havia um casal onde a mulher se apaixonou por um boizinho e levou-o para casa. Que era um minúsculo quarto/sala na Prado Junior (no começo de Copacabana, Rio). O marido, boa praça, segurou as pontas enquanto pode, até que um dia não aguentou mais: eu ou ele! Foi visto pela última vez andando sujo, descalço, cabeludo e barbudo perto de um supermercado na Constante Ramos com Barata Ribeiro. Ele e um vira-latas amarrado num barbantinho de nada, amabilíssimo bichinho que abanava o rabo para todo mundo, sem discriminação de gênero, cor, idade, etc. O boi, esse, estava enorme de gordo e rosado, chifres polidos, cascos engraxados, andava com uma coleira onde corações entrelaçados juntavam os nomes de Irene&Caracu.
      Meu espaço chega ao fim e quase deixo de falar dos dois animais que me adotaram, há cinco ou seis anos: Cler e Nanda. Semanas de nascidas,  resgatadas do lixão, ensacadas em um saco plástico bem vedado para asfixiá-las: chegaram com verminoses, diarréia, anêmicas e traumatizadas. Depois de tantos anos, continuam a lição diária de me ensinarem e, pouco a pouco, vou aprendendo. O quê? Amor, ora; amor...

                                                                  foto de 2012

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