NA MINHA OPINIÃO,  uma coisa muito instrutiva é "ouvir o outro lado", a respeito de um fato. Descobri há pouco um comentário sobre o dia da morte do Getúlio Vargas, 24 de agosto de 1954, de ninguém menos que Miguel Torga, o poeta e escritor português.Aquele período caótico da história política coincidiu com uma visita que ele fazia ao país. Registrou ele: 
 "Guanabara, 24 de agosto de 1954.
     Deixo o Brasil envolvido em negrura. Escuridão física da noite, que oculta o meio geográfico num abraço espesso, e treva metafísica das circustâncias políticas, que cobrem de luto o país inteiro.
     Como de propósito, o navio largou ao cair da tarde. E é uma terra inconformada com a sua habitual rotação e sobressaltada com a inesperada rotação da história, que aos poucos me vai saindo dos olhos."
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     "Não, o eclipse é transitório. daqui a meia dúzia de horas amanhece, e há novamente confiança na carne da terra e na alma dos habitantes. Um sol que se põe e um demagogo sentimental que dá um tiro no coração criam habitualmente o pânico telúrico e social por instantes. Mas a sina do astro rei é renascer, e a dos tiranos, mesmo sentimentais, é morrer de vez" (Miguel Torga, "Diário-VII" 2ª ed. revista - Coimbra Editora, 1961)
     Acho fascinante observar a percepção de um fato como esse por um "alienígena", ou seja, alguém estranho ao dia-a-dia dos fatos políticos e históricos que levaram o país a aquela crise. Em princípio, reduzir um político da dimensão histórica de Getúlio Vargas da forma que ele fez chega perto de iconoclastia; mas se você pensar bem e conseguir se isentar um pouco, tal síntese não está tão despropositada assim... 

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